segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pós-graduação e a era digital

Ouve-se com freqüência a assertiva no sentido de que a qualidade (o nível cultural) do aluno brasileiro que chega ao curso superior ou a um curso de pós-graduação tem sido normalmente deplorável.
O Brasil praticamente universalizou a educação fundamental (faixa etária de 6 a 15 anos, depois das Leis 11.114/2005 e 11.274/2006): 97% das crianças e adolescentes estão na escola. Mas é grave a situação do "antes", do "durante" e do "depois" do ensino fundamental, ou seja, do ensino infantil (até os 6 anos), dos que chegam à 8ª série e do ensino médio (faixa etária de 15 a 17 anos). Também é preocupante a situação brasileira relacionada com os cursos superiores e as pós-graduações.
Apenas 57% dos alunos do ensino fundamental chegam à 8ª série. Em relação ao ensino médio, enquanto no Brasil somente 14,4% completam esse nível de estudo, na Índia o percentual é de 28,2%, na China é de 45,3%, Coréia do Sul é de 55,2%, no México é de 37%, no Chile é de 35,7%, na Argentina é de 31,1% etc. Cinco milhões de jovens brasileiros, entre 15 e 17 anos, não estão freqüentando nenhum tipo de escola. No que diz respeito à qualidade desse ensino médio, apenas 4,4% dos alunos conseguiram alcançar em matemática a média dos países da OCDE; em leitura, apenas 11%. A competitividade global do Brasil vem caindo a cada ano: de 1990 a 2004 passamos da 8ª para a 14ª posição entre as maiores economias mundiais. Mais de 50% dos adultos no Brasil são analfabetos funcionais ("Brasil, o Estado de uma Nação", Ipea, 2006).
É preciso reconhecer, ainda, que muitas vezes o acadêmico do ensino superior chega à universidade preparado, mas se transforma no grande responsável pelo seu insucesso educacional. Oportunidades lhe são oferecidas (ou seja: o ensino muitas vezes é bom), mas o que ele deseja mesmo é ser protagonista de uma ficção. Há alunos que durante cinco anos enganam os outros (pais, parentes etc.) e a si mesmos. A culminância do engodo acontece quando ele compra, via internet, o trabalho final de conclusão do seu curso.
Uma vez diplomado, chega a realidade, isto é, chega o dia em que ele tem que definir seu destino, sua profissão, seu futuro, sua pós-graduação e, agora, não tem mais como enganar ninguém.
No Brasil o aluno que conclui o ensino superior faz parte de uma elite privilegiada, visto que apenas 11% da faixa etária universitária estão cursando uma faculdade no Brasil. Trata-se de percentual muito pequeno quando comparado com outros países (Argentina quase 20%, Chile 38%, Coréia do Sul mais de 60% etc.). O percentual se reduz drasticamente quando se enfoca a pós-graduação. São poucos os que cursam universidade; pouquíssimos os que freqüentam uma pós-graduação.
Conclusão: não estamos formando mão de obra qualificada que possa aumentar a chance de empregabilidade e atender a demanda exigida pelo mercado. Isto sem considerar o papel mais fundamental do ensino que é a formação integral do indivíduo. Comparativamente, são poucos os alunos que estão estudando no Brasil (ensino médio, nível superior e pós-graduação).
Muitos são os fatores que vêm contribuindo para o propalado desastre educacional brasileiro. Um deles, seguramente, diz respeito aos métodos de ensino. Uma boa forma de educar compreende um duplo processo: transmitir conhecimentos ao aluno e proporcionar meios para fazê-lo aprender. Além disso, o aluno tem que compreender, de qualquer modo, que é o seu esforço que o tornará capaz de melhor apreender (sedimentar) os conteúdos trazidos para a aula pelo professor. Mas isso o que temos visto (de um modo geral) no Brasil.
Para que sejam superados os déficits e as crises do ensino no Brasil aí estão os avanços tecnológicos, que têm sido um excelente parceiro nessa tentativa de transmitir conhecimento ao aluno e de fazer com que ele o apreenda. Ferramentas disponibilizadas na internet acabam por manter o aluno mais tempo dedicado aos seus estudos, permitindo que a sua jornada acadêmica se estenda para além daquela exigida em sala de aula. Aliás, o tempo que o aluno permanece na escola é apontado como uma das variáveis que mais explicam o bom desempenho escolar, ao lado da idade de entrada no sistema educacional.
Como vem crescendo o número de docentes que criam sites pessoais e lá incluem discussões, material de apoio, vídeos de reforço do conteúdo ministrado em sala de aula, etc., o computador torna-se, em muitos casos, uma extensão da escola. Além disso, materiais que antes só poderiam ser encontrados em algumas bibliotecas estão disponíveis na internet com acesso livre para todos os interessados, independentemente de sua localização geográfica. É o que ocorre, exemplificativamente, com o portal www.dominiopublico.gov.br, que conta com 57.160 textos, 8.280 imagens, 2.144 sons e 1.138 vídeos.
Uma outra tendência que já faz parte da nossa realidade educacional são cursos ministrados integralmente pela internet. Há também aqueles que aliam internet com aulas telepresenciais. É cada vez maior o número de alunos que cursam uma faculdade ou um curso de pós-graduação por meio da modalidade de ensino a distância.
Isso tem proporcionado a milhares de brasileiros acesso a curso superior ou de pós-graduação, já que, como é sabido, a mensalidade de tais cursos, normalmente, é bem inferior à de um curso presencial. Além disso, há aqueles que não podem se locomover para assistir aula em outra localidade, servindo então, o ensino a distância, como única opção.
O acesso a cursos de formação superior, por sua vez, proporciona um melhor desempenho salarial, além de facilitar a obtenção de emprego (é de 3,8% o índice de desempregados que tenham concluído o ensino superior).
Por tudo isso, já seria de ver com bons olhos o ensino a distância no Brasil. Há, no entanto, algumas preocupações que merecem ser compartilhadas para que, buscando-se superá-las, tal modalidade de ensino venha, de fato, contribuir para a melhoria do nível educacional do país, tema a ser tratado em seguida. Antes, entretanto, de se chegar a tal tema serão trazidas referências quantitativa do ensino a distância no Brasil, a fim de se conhecer a sua extensão, bem como será analisado um dos modelos de ensino a distância - o televirtual - e suas modernas tecnologias de ensino-aprendizagem.
Fonte: Site Folha Dirigida - acesso em 10/11/2008.

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